sexta-feira, 28 de setembro de 2012

Caixas, lembranças e afins


Deitada de pernas para ar enquanto escutava minha música predileta, percebi que já havia passado da hora de arrumar meu quarto. Estou uma confusão, não nego. E não sei porque, mas sinto que ajeitar meu redor pode acabar me ajeitando também. Pode parecer idiotice, mas de certa forma, funciona. O quarto de uma pessoa nada mais é que um refúgio para todos os seus maiores sonhos e lembranças, que com o tempo (ou a falta dele), acabaram ficando sem espaço no mundo lá fora. E o que fazemos com tudo isso? Guardamos em caixas e mais caixas repletas de pedaços de papeis e fotografias, na esperança de um dia podermos reabri-las e sentir aquele gostinho da felicidade que um dia cada tranqueira daquelas já nos trouxe.
Até porque, você sabe que tudo isso traz muito mais que simples recordações. Cada lembrança, traz consigo um pedacinho do que você é ou deixou de ser em uma dessas reviravoltas da vida. Seja aquela garota sorridente que sempre dizia o que pensava ou aquela criança tão quietinha e diferente das outras, que entre palavras e brincadeiras, acabava sempre optando por um velho caderno e uma caneta.
Da maneira mais cuidadosa possível, abri uma das caixas em clima de nostalgia. Em cima de diversos papeis já amarelados pelo tempo, uma foto com várias crianças sorridentes me chamou a atenção. Custei a reconhecer uma garotinha de faixa colorida nos cabelos e olhinhos brilhando que estava abraçada com outra garota de longos cabelos castanhos, para a qual ela, na época, revelava seus maiores segredos, que por mais bobinhos que fossem, as tornavam as inseparáveis 'melhores amigas para sempre'. A garota, era eu. E quanto a essa amizade eterna, infelizmente acabou. Não me lembro quando nem porquê, simplesmente foi sumindo com o tempo.
E se hoje relembro tudo isso, confesso que sinto saudades, mas aos poucos aprendi que certas coisas a gente tem que deixar ir, por mais que não queiramos isso. Todo novo ciclo possui uma acolhida e uma despedida. E ciclos se renovam todo dia, toda hora, todo momento.
No fundo, a gente se despede do ontem com carinho porque sabe que cada caixa que vai embora é, no mínimo, um aprendizado. As vezes me pergunto se a bagunça que se acumula dia após dia em nossos quartos não é uma vontade nossa, bem sincera e honesta, de nos obrigar a abrir as caixas, portas e gavetas para analisar a vida de vez em quando. As histórias vão, mas a gente fica. E a parte divertida de você relembrar de tudo é que você se analisa, vê o que mudou depois de tempos, ou até mesmo o que não mudou.
Ao fechar a caixa, um enorme nó formou-se em minha garganta. E foi aí que percebi que além das tranqueiras que não tinham mais valor, ali estavam diversas coisas que um dia já foram necessárias. Pedaços  e mais pedaços do tempo, enquadrados em fotografias e papeis.
Estive a um passo de jogar tudo fora. ''Mas e se uma dessas lembranças ainda me fizessem sorrir por algum motivo bobo?''. Voltei atrás e recoloquei tudo naquela enorme caixa, e decidi, que a partir daquele momento, ali seria a moradia fixa de todas as minhas lembranças.
E se um dia a saudade bater, não terei medo de abrir. Lerei cada carta, beijarei cada foto, e acima de tudo, agradecerei baixinho por todas as pessoas que já passaram por minha vida e bagunçaram cada pedacinho dela.

7 comentários:

  1. "Meu Deus! Não é possível que essa menina tenha somente quatorze anos!" Esse com certeza é o primeiro pensamento de quem lê os seus textos. Você tem uma maturidade para escrever que muitos escritores que estão no campo literário há anos e anos não possuem. É incrível como você tem habilidade com as palavras. E pensar que atualmente, as pessoas estão desvalorizando o que há de bom nela. Perguntaram a Pablo Neruda o que aconteceria com a poesia no ano de 2000, e ele, sabiamente respondeu que estava seguro de que não se celebraria o funeral da poesia no próximo século, disse: " A poesia acompanhou os agonizantes e estancou as dores, conduziu ás vitórias, acompanhou os solitários, foi ardente como o fogo, ligeira e fresca como a neve, teve mãos, dedos e punhos, teve brotos como a primavera: fincou raízes no coração do homem". Acho que a poesia não está somente em versos. Está em todo lugar onde a palavra é empregada com intuito de levar as pessoas a refletirem... E você faz isso com maestria. Colocando ideias na cabeça de quem não tinha nenhuma e encaminhando a dos que tinham mas que estavam perdidos... Mas, pensando bem, estamos todos perdidos nesse mundo louco, não é? E admiro muito a sua forma de criar o próprio mundo para tentar se encontrar, enquanto muitos outros só ignoram o fato de estarem perdidos, e sem fazer nada, se perdem tão profundamente que não mais se encontram. Apesar de não acreditar em previsões do futuro,deixo a minha em relação a você: "Essa nasceu para brilhar!".

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  2. Ah que texto maravilhoso! Muito bom mesmo, parabéns!
    Beijoos

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  3. Nossa, Raíssa Guimarães, fiquei encantada com seu testamento! *---* E muito obrigada garotas, de verdade. Comentários positivos como esses só aumentam a minha vontade de escrever! :)

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  4. E daqui, desta cidade "quase" grande, me pergunto: onde estava que não vi esta garota crescer? E onde ela está agora? Será que embaraçada nestas palavras um tanto tristes, misturada à narrativa nostalgica de quem ainda tem tanta coisa pra viver? Quem é esta menina, gente? Alguém a re-conhece? Deixe-me então dizer quem sou, me re-apresentar: estava com você quando sua mãe se fez a primeira pergunta - "será que estou grávida?" e eu disse, olhando pra ela (ainda não vendo, mas sentindo você), sim!!! Estava com você e você estava comigo, (em meus braços) no dia do ritual de seu batismo dizendo em seu nome, "Sim" para assumir que serias em 'Kristos'(cristã),e... continuo com você, mesmo que não esteja do teu lado, mas continuo dizendo sim, sim, sim a você e para você. Sempre sim! Estou encantada com seus textos. A propósito, já ia me esquecendo...Sou eu sua madrinha :). Beijo Minha Linda. Serei daqui pra frente sua leitora incondicional.

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  5. Muuuito obrigada! Madrinha melhor não existe! Estava morrendo de saudades, mas a partir de agora, irei te ver nem que isso custe eu ter que fugir de casa para passar um final de semana aí com você!rs Beeijão Dinha!

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  6. Alice eu também AMO guardar essas coisinhas que nos fazem lembrar de algo significativo, desde fotos de infância a ingresso do cinema e papeis de bala. O que eu sinto quando vejo essas coisas é que o tempo passou, mas eu levei um pedacinho dele. Esses bagunças significam cada aprendizado, cada amizade, cada experiencia que nos constroem. Ótimo blog. bj

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