terça-feira, 30 de dezembro de 2014

Sobre finais e recomeços


Quem nunca se decepcionou com o final de uma história que atire a primeira pedra. A mocinha não ficou com o rapazinho que você tanto queria? O herói morreu? O sonho da criança não se realizou? E por aí vão mais milhares de decepções que já tivemos.
Créditos subindo na tela, um enorme fim escrito após o último capitulo de sua novela ou simplesmente a última página de um livro. Não costuma ser difícil saber quando uma história acaba. Mas e na vida? 
Se o livro acaba e não aconteceu o que você esperava, suas esperanças morrem naquele exato instante, mas na vida não costuma ser fácil assim. Não existem números no rotapé da vida. Não existem créditos. Não existem “the ends”. Assim fica difícil não alimentar as esperanças. Se a mocinha não ficou com o mocinho, você ainda aposta todas as suas expectativas no futuro. E assim você automaticamente entra no ciclo sem fim do amanhã. É inevitável.  “Ah, um dia acontece...” E passam milhares de dias, anos, décadas.. e a situação continua na mesmice.
Que tal trocar a fita, o filme, a novela ou o livro? Se ainda não entendeu a metáfora, vou soletrar para você: parte para a próxima.


segunda-feira, 22 de dezembro de 2014

Coisa de louco

Pergunto-me todos os dias onde estou aqui dentro de mim. Perdi-me nessa bagunça e nunca mais me encontrei. Sentimentos por todo lado, tristezas antigas emolduradas e dores em forma de retratos. Canções ecoando pelas escadas misturadas com vozes familiares, mas já não presto atenção em nada. Nada faz sentido aqui dentro. O tempo não passa.
Pela fresta da janela espio o mundo, com medo. E nisso me escondo mais, me tranco por trás de fechaduras sem chaves, escondo-me de mim mesma. O relógio da sala não para com seu tic-tac um segundo. Um minuto a mais é sempre um minuto a menos. O coração da casa pulsa forte. O piso range a cada passo. O teto ameaça desmoronar a qualquer momento. Engulo a morte com paciência. Poeira por todo canto. Coisa de louco. Coisa minha.

domingo, 14 de dezembro de 2014

Da água pro vinho

 Que minha vida tinha virado ao avesso nesse último ano, mais necessariamente nesses últimos meses, eu já havia percebido. Mas apenas essa madrugada pude sentir o peso dessa mudança sobre mim. Caramba, que vazio! De repente olhei para o lado e não encontrei ninguém, me dei conta que nem ao menos me tenho mais. Já fui minha amiga um dia, mas ando mudada demais... Desisti de tentar me entender. 
Da água pro vinho. Acho que posso definir a mudança assim. Maldito vinho. Embebedada pela minha sede de viver acabei perdendo tudo o que tinha. E sem desculpas dessa vez. Sem drama. Sem autopiedade. Sem lamentações na frente do espelho. Dessa vez não. 
Voltei no tempo enquanto jurava que morreria essa noite. Essa bendita dor no peito que nenhum médico é capaz de curar. E doeu fundo, tão fundo que pensei que de hoje não passava. Rezo para que passe, e logo.  Por favor, me diga que isso é um pesadelo. Que vou acordar na manhã seguinte com um bom dia seu e uma carinha feliz. Tudo que mais preciso agora. Não sei se quero te ver. Vai ser difícil para mim ver em seus olhos que as coisas nunca mais serão as mesmas. Nunca. Com sorte, talvez, algum dia você resolva não me ignorar quando eu passar do outro lado da rua.Talvez. 
Você foi a primeira coisa que pude chamar de minha. Primeira e única. Nunca fui de me contentar com a calmaria e monotonia de rotinas. Aquilo nunca foi para mim. Perambulando de caminho em caminho, não fazia ideia de para onde estava indo. Era um erro ambulante que se alimentava de pequenas finitudes. Mas foi aí que encontrei meu destino. Ou seria o destino que me fez te encontrar? No meio de tanta escuridão, você chegou de fininho, iluminou cada cantinho aos poucos, até que um dia esse sentimento aqui dentro acendeu de vez. E foi lindo. Fui capaz de ver coisas que nunca veria sem você, enxergar pequenas coisas por ângulos completamente novos, ver cores em lugares que jurava ser preto e branco. Te mostrei cicatrizes que nem eu mesma assumia que tinha, te confessei entre um sussurro e outro meu pior lado, te alertei das minhas confusões entre uma risada e outra naquela tarde em que contávamos carros pela avenida. Pequenas coisinhas que me tornavam cada dia mais sua. E o que mais me surpreende é que você não se assustou nem um pouco com isso, pelo contrário, aceitou ficar do meu lado, tentar lidar com toda essa bagunça. “Por você vale a pena”. Você me deu uma chance. Deu outra. E outra. Não costumam confiar em mim. Agora entendo o porquê. 
Ouvi dizer que o amor supera qualquer barreira. Será? Porque todos os meus muros acabaram de ser destruídos. Não sobrou pedra sobre pedra. Onde você está que não responde? Onde está que não me escuta? Esse silêncio está me corroendo mais que todos os seus gritos juntos. E não foram poucos. As lágrimas que escorreram pelo seu rosto antes de você ir doeram mais em mim que em você. Uma batida de porta. Um grito. Meu. Desmorono no chão enquanto você parte levando completamente tudo o que eu tinha: você.

domingo, 16 de novembro de 2014

Sou assim

-Pesquise meu nome no dicionário e encontrará como sinônimo "confusão" e de quebra uma nota no rodapé dando um conselho para não se envolver. Justo você, o garoto tão certo. Te encontrei na página de "amor" outro dia, uma pena a definição ser tão contraditória. Não sei ser moldada. É pressão demais pra mim. Nem sei o que estou fazendo ou como cheguei aqui, então como pode esperar que eu consiga olhar lá pra frente da estrada e te dizer o que vejo? Minha miopia não permite, sinto muito.
E se eu te dissesse que estou perdida? Que não faço a menor ideia do que faço com a minha vida? Ainda estaria aqui? Acho que não.
Sou esse erro ambulante, e por isso, sinto muito, mas não posso pedir perdão.
Não caibo nessa gaiola sua, desculpa. Não sei voar mas estou aprendendo. Caindo muito, mas estou. Errando muito, mas estou. Sou assim. E talvez sempre serei, mas isso só a vida se encarregará de me dizer. 
- E se eu for suas asas?
- E se você estiver me forçando a voar rápido quando mal sei tirar os pés do chão? Se quiser, me acompanhe. Sente do meu lado e segure minha mão. Mas caminhe comigo, não me puxe para frente ou tente me levar para um futuro do seus sonhos. Sou de carne e osso. Osso fraco e carne podre. Não preciso de salvação, preciso de paciência.
- Desculpa minha impaciência... eu só me animei tanto achando que seria um mar de rosas que esqueci que rosas tem espinhos.
-Sim, elas tem. E machucam. Desculpa por tantas feridas. Sou assim, meio confusa, meio complexa, meio eu. Ou melhor, sou assim: inteiramente eu.

segunda-feira, 13 de outubro de 2014

A menina que passou dos 30

Essa noite a general desceu do seu posto, virou uma garotinha cheia de sonhos que chorou impiedosamente enquanto admirava a grande cidade iluminada que cabia na sua pequena janela. Coisas grandes sempre a assustaram, seja o horizonte infinito ou o amor.
Pobre coraçãozinho, tão pequeno para tanta dor. Aquele mundo era demais para ela. O medo invadiu seu quarto cor-de-rosa. A raiva da injustiça invadiu seu corpo. A revolta do seu amontoado de confusões invadiu o pouco de sanidade que lhe restava.
 A noite escura lá fora sussurrava aos sete ventos que a solidão é a maior companhia que alguém poderia ter. O vazio enche o copo, enche a alma, enche o peito. Esfriou. Na falta de um amontoado de panos para fugir, encolheu-se e rezou ao seu Deus. O tempo não passava. Ninguém a atendia lá fora. “Vai ver papai do céu está ocupado demais com pessoas importantes”. E nisso virou para o outro lado e rezou para a dona do seu destino, pediu que crescesse antes que fosse tarde. Já havia passado da hora de perceber que a vida esta por aí batendo porta na cara de quem tem medo de pular janelas. Levantou-se, olhou no espelho e viu uma mulher de farda com uma lágrima nos olhos. Se hoje veste essa armadura, é porque já se feriu demais. Despiu-se de todas as máscaras e restou sentimentos, que sem sustento algum, despencaram no chão do silencioso cômodo. O barulho dos anseios de uma criança perdida sendo estraçalhados em cacos era de ensurdecer os mais sãos dos seres. Implorava pelo colo de sua mãe todas as noites, sem sucesso. O mundo andava doloroso demais para ela enfrentar sozinha. Era apenas uma criança.

quinta-feira, 2 de outubro de 2014

Seu jardim


Plante-me. Rega-me. Faça-me florir. Veja-me crescer. Faça de mim sua flor, sua rosa, seu jardim, sua mulher. Corte as ervas daninhas que tanto me sufocam. Poda-me. Deixe-me respirar no sol, sentir a brisa entre as folhas.
Colha-me e coloque-me sobre sua estante em um jarro qualquer. Não precisa ser bonito, muito menos inteiro. Despetala-me. Bem me quer ou mal me quer? Veja-me morrer, dia após dia. Despeça-se de mim com um sopro. Não quero que me veja ser apenas galho, apenas resto, apenas pó. Jogue-me pela janela. Deixe-me reviver do lado de fora. Que eu crie raízes, que alguém me colha. Que alguém me acolha. Que você me veja da sua janela indo embora e uma lágrima escorra pelo seu rosto. Que essa lágrima regue seu coração de pedra e faça dele o jardim que nunca consegui ver. Que plante uma margarida no lugar e chore todas as manhãs por ela não ser rosa. Por ela não ser sua. Por ela não ser eu. 

terça-feira, 19 de agosto de 2014

Desmemoriar



"Esquecer, esquecer, esquecer", repito infinitamente para mim, quando no fundo sei que isso servirá apenas para me lembrar mais. Lembrar mais... como se isso fosse possível. Seu rosto permanece estático em minha mente. Seus olhos cheios d'água, sua boca trêmula, sua expressão de medo. Fechei os olhos para o presente e caí, caí feio. O vento tornou-se furacão, a garoa tornou-se tempestade. E nosso amor? Tornou-se dor. Tornou-se um suicídio conjunto. Tornou-se pó. Compliquei demais, embolei, te enforquei. Fui cega, e não te vi escapando pelos meus dedos.Quando acordei já era tarde demais. Me esquece, para o seu bem. Estou tentando fazer o mesmo, por mais difícil que seja. Te amo demais pra te deixar ter alguém tão "eu" do seu lado. É perigoso. É crueldade. Egoísmo puro. Em que frasco encontro um remédio pra essa doença chamada amor? Deem-me tudo, morrerei de overdose.

quinta-feira, 3 de julho de 2014

Cada caminho com suas pedras e flores


Se dá saudade? Muita. Vontade de jogar tudo pro ar e desistir? Também não falta. Mas são justamente nesses momentos que mais olho pra trás e vejo que não faria sentido chegar aqui em vão. É complicado? É. Mas afinal, o que nessa vida chega fácil em nossas mãos? Voar alto dá um baita frio na barriga. A vista é linda mas assustadora. E se eu cair? Faz parte. Lágrimas, arranhões e dores estão aí pra provar que vivi.
Não canso de ouvir por aí que a vida é uma só. Virei naquela última esquina e estou tentando seguir em frente. Escolhas estão aí pra confundir a gente, mas também pra deixar o caminho mais divertido. Não negarei que o “E se” sempre bate na minha porta perguntando como seria minha vida se eu tivesse virado a esquerda no último cruzamento ao invés da direita. Talvez minha vida seria mais tranquila.. talvez não.. É a vida! Não dá pra voltar no tempo, e mesmo se tivesse, seria uma baita de uma confusão. Se já estou nessa estrada, por que não seguir em frente e admirar a paisagem? Cada caminho tem suas pedras, mas também sempre há aquilo pelo qual vale a pena lutar. Prendo-me nisso e piso no acelerador. Posso até não saber pra onde estou indo ou chegar em algum lugar que nunca esperaria, mas afinal, pra quem está perdido, qualquer caminho serve.

segunda-feira, 16 de junho de 2014

Poetize a dor


Respire fundo. Poetize a dor. Deixe que as lágrimas escorram pelas entrelinhas, encharquem o texto, afoguem o coração. Deixe que a tristeza sangre o papel, e que esse já desfalecido, torne-se apenas memória. Deixe que as palavras fujam, saltem do papel, escondam-se em bocas alheias. Deixe a dor ser transformada em rima e verso, problemas em estrofes, tristeza em poemas. Recitados de boca em boca, deixe que seus gritos se propaguem. Já não será mais dor. Será arte. Será amor.

quinta-feira, 12 de junho de 2014

Perdoa minha confusão

Perdoa minha confusão, vai. Nunca tive a menor ideia do que fazia com a minha vida, mas dessa vez a razão anda escapando demais por entre meus dedos. Caramba, como cheguei aqui? Tentei controlar a vida e me descontrolei.
Quero voltar atrás. Quero seguir em frente. Quero desistir. Quero tentar. Preciso tentar. Ou isso seria o mesmo que me iludir?
Mandam-me ouvir meu coração... Mas impossível escutá-lo com todos esses gritos daqui de dentro. Por isso enlouqueço, corro, fujo.
Eu e minha eterna mania de achar que fugir é a melhor das soluções. Sei que no fundo, essa é a pior das hipóteses, e justamente por isso prometo pensar em algo melhor...  Enquanto fujo.

sábado, 31 de maio de 2014

Marés


O mundo se embaça. O coração aperta. E lá vai ela descendo, congelantemente quente, rosto a fora. Sorrateira, da forma mais violenta que poderia ser, estremecendo cada parte do corpo, inundando cada parte do peito. Ela em si não dói, mas traz a tona as mais temíveis profundezas de nossos mares, que deixamos acumular no dia-a-dia, com medo de encarar ou jogar fora de vez. Daí guardamos na esperança de tudo sumir como um passe de mágica. Não some. Chega um dia que simplesmente não dá mais. E transborda. Transborda muito.

Marés cheias fazem parte das fases da lua, fazem parte de nossas fases, fazem parte da vida. Afogamos as mágoas para não morremos sufocados. Inundamos o mundo para nos esvaziarmos, e depois, claro, encher tudo de novo. Gota por gota, dia após dia. 

quinta-feira, 22 de maio de 2014

Nós


Sou feita de nós.
Nós embolados,
Nós confusos,
Nós apertados.
Somos nós.
Nós que sufocam,
Nós que desatam,
Nós que unem,
Nós que sustentam.
Eu. Você.
Nós dois.
Apenas nós.

quarta-feira, 14 de maio de 2014

Até logo


Sabe o tempo? Ele passa.  Sabe os problemas? Eles mudam.  Sabe a vida? Continua.
Precisei andar milhares de quilômetros pra descobrir que o melhor lugar do mundo era ao se lado. Precisei me perder para me encontrar. Precisei complicar pra entender.
Pela janela do ônibus a vida passa, e com sua graciosidade, sorri irônica para mim. São tantos sinais pela estrada que nem sei mais qual seguir.
Disse “Até logo” sabendo que era um “Adeus”. Sorri dizendo “se cuida” pensando “vem comigo”. Abracei forte, querendo, no fundo, fundir teu corpo ao meu.
Da janela aceno para o passado. Era saudade demais para caber em uma mala...
Pé na estrada, mente no mundo, coração no seu quarto. Não o deixei pra trás por descuido. Você fez tão bem a ele que decidi deixá-lo contigo. Uma lembrança, tá? Quem sabe um dia não volto para buscá-lo? Até lá.. bem, até logo.. Espero.


sexta-feira, 28 de fevereiro de 2014

Encruzilhada

Estou no meio de uma ponte. Tarde demais para voltar atrás, cedo demais para seguir em frente. Esse vazio esta acabando comigo. Saudade do ontem. Medo do amanhã. Malditas incertezas!
Lutando para não perder a sanidade tento colar esses milhares de cacos que me consomem por dentro.
Não faço a menor ideia do que está acontecendo aqui dentro. Só sei que dói, e não é pouco.
Não há remédio. Antes tivesse... já teria morrido de overdose. Malditos exageros. Amei demais, doeu demais, morri demais. De mais ou de menos. De vezes ou multiplicação.
Exatas não se aplicam na vida. Aulas inúteis as do colégio! Me ensinaram a saber de tudo, mas se esqueceram de me ensinar a viver. Então não me ensinaram tudo. Fui reprovada na vida. A bomba explodiu em minhas mãos. As mesmas mãos que seguraram as suas quando você precisou. As mesmas mãos que imploraram por ajuda quando eu estava caindo. As mesmas mãos que ficaram vazias enquanto eu gritava por socorro.
Coloquei o dedo na garganta e vomitei palavras. Ditas, não ditas, escutadas e não escutadas. Cada uma com seus espinhos e dores.
Perdi o controle de mim na última esquina que cruzei. 
Está escuro. Tenho medo. Está tarde. Estou perdida. Dentro de mim. Fora de mim.
Implorando pelo monstro que me mata, morro por ser tão idiota. Morro por amar.

quinta-feira, 23 de janeiro de 2014

Pegando carona com a saudade


Convenhamos que não conheço um lugar com tantos cheiros diferentes como um ônibus. Batatas fritas, perfumes dos mais suaves aos mais fortes, cachorro quente, chocolate, salgadinhos... Os mesmos de sempre. Entretanto, dia desses me surpreendi quando sentou do meu lado uma moça com nada mais nada menos que cheiro de infância. Não era cheiro de colônia de bebê, caso seja isso que você esteja imaginando. A moça tinha cheiro de bala. Mas não era de qualquer bala. Não mesmo!
Era o cheiro dos meus dias mais felizes quando criança.
Lembro-me de quando papai me levava à cidade grande como se fosse ontem. A viagem era longa e cansativa, e ele sempre comprava uma bala (que infelizmente esqueci o nome) e uma revistinha em quadrinhos. Eu me sentia a criança mais feliz do mundo enquanto desfrutava de um dos meus primórdios contatos com a literatura e colocava as balas na boca em um (quase sagrado) ritual. Mastigar nem pensar! Engolir ou colocar mais de uma na boca então nem se fala!
E de bala em bala, o tempo ia passando. Talvez seja por isso que hoje eu não resista ficar sem mastigar alguma bala. Sem perceber associei-a com o tempo. E tenho pressa. Todos tem.

sexta-feira, 3 de janeiro de 2014

Bagunça


Tivemos tantos fins e ao mesmo tempo nenhum. Irônico, não é? Mas combina bastante com nossa história. Confusão e mais confusão define bem nossos corações, e quando duas bagunças se juntam, na certa não surgirá nada além de uma bagunça maior ainda. Montes de frases não faladas e receios foram ficando acumulados no canto da sala. Quantas vezes batemos a porta na cara do outro? Quantas vezes fugimos pela porta dos fundos? Quantas vezes pulamos a janela? Sinceramente perdi a conta. Mas a quem queremos enganar? Somos amantes da bagunça, e logo mergulhávamos um no outro novamente.
Sabe, meu amor, não te julgo por não ter se despedido. Ainda me lembro daquela tarde em que ambos fugimos de fininho, com medo de dizer adeus. Tentamos entrar novamente mas era tarde demais. A bagunça havia tomado conta do lugar de tal maneira que não mais nos cabia ali.
Confesso que as vezes ainda ouso espiar pela janela, na intima esperança de um dia encontrar tudo como estava quando chegamos. Mas se nossa bagunça só cresce a cada dia, por que dessa vez seria diferente?
O passado está a ponto de transbordar pelo vidro quebrado. Não quero estar aqui quando isso acontecer. Por isso fujo. Para longe. Bem longe. Mas no fim, acabo correndo de mim mesma. Sou a bagunça. Não há prateleiras ou caixas que me ajeitem. Serei uma eterna bagunça. 
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