sábado, 27 de junho de 2015

O inimigo

Perdi a fé naquele dia cinza em que o primeiro canhão explodiu. Era madrugada, levantei assustada,  e quando olhei para o lado tudo já havia se desmoronado. Tarde demais, sou apenas mais um soldado perdido em campo de batalha, segurando a prova do crime que cometo contra mim mesmo. As frias balas atravessam-me o peito, mas nada acontece. Ainda não fui derrotada. Ainda. 
Temo que esse seja meu último sussurro. Uma dor efêmera que possui o amargo gosto da derrota, com pegajosos sofrimentos que escorrem-me pela boca.
É o fim, agora eu sinto. Mas não me rendo. Queimei minha bandeira branca em tempos difíceis, nos quais precisava das chamas para sobreviver. 
Lutei uma eternidade contra um inimigo que sempre habitou meu espelho. Seus pontos fracos não passam de singelas gotas de papel. Travei uma batalha a punho contra mim mesma. Meu campo de batalha pulsa sangue, minha trincheira não passa de um amontoados de panos largados na cama. Ele está aqui dentro, guerreando entre minhas veias, dores, pulsações. Sou o inimigo.
Guerreando contra meu próprio caos, desfaleço descalça. Quem virá buscar meus sapatos? Minhas gastas solas não servem para meio passo.

terça-feira, 9 de junho de 2015

Metamorfose


Faz muito tempo que não me vejo em meus textos, mas afinal, como me encontrarei neles se nem sei como sou? Chame isso do que quiser, entre elas crise existencial será aceito, mas te digo com toda certeza do mundo que é mais que isso. É sobre eu ser assim. Não é fase, não é questão de tempo, não é angústia. Só sou assim: sem definição. Sou cara e coroa, flor e espinho, sol e lua. Tudo ao mesmo tempo. Sou oposto. Totalmente contrária. Do avesso. Vai ver é só isso.
Feita de metamorfoses, vivo em meu casulo eternamente. Seria eu uma lagarta esperando por asas? Não, é mais que isso. Não sou lagarta nem borboleta, sou a mudança. Sou a metamorfose em si.
Nem sou tão complicada assim vai... Tá, talvez um pouco. Não sei lidar comigo mesma e acredito que esse seja o maior dos meus problemas.
Sinto como se todos os meus textos fossem escritos com as mesmas palavras. E são. Em ordens diferentes, mas são.  Sou frase indefinida. Sempre as mesmas palavras, formando sentenças diferentes, tendo sentidos diferentes, gritando algo diferente para o mundo. Seria isso uma definição? Espero que não. Amanhã tudo isso mudará, seja meu conceito sobre mim ou sobre mundo. Todo esse texto já terá sido realinhado das mais diversas formas. E eu continuarei aqui, entre cada linha, espiando o mundo na esperança de me entender. Me descomplicar é o primeiro, e maior, passo para descomplicar o mundo.

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