segunda-feira, 26 de dezembro de 2016

País das Maravilhas


Alice, acorde, foi apenas um sonho. Não existe coelho, não existe gato, não existe chapeleiro, não existe País das Maravilhas. Você não saiu do lugar um só minuto. Vivendo de mentiras, você mergulhou cada vez mais profundamente em um universo que você criou pra escapar da realidade. Chegou um momento em que esse universo se tornou tão grande que te engoliu.
Algo que era um passatempo tornou-se a mais fiel das mentiras. Você começou criando coisinhas aqui e outras ali, e depois de tanto tempo, começou a acreditar que tudo aquilo era real. Caiu em um buraco tão profundo que não conseguia ver o mundo aqui em cima, e te garanto, ele não tem nada de maravilhas. Bem vinda ao mundo real Alice, onde sonhos são destruídos e coelhos não falam. Um mundo onde você não precisa comer ou tomar nada para se sentir pequena, o próprio mundo já faz isso por você. Você cresceu, e infelizmente o mundo te obriga a largar as fantasias para trás. Sem filtros para esse mundo tão cinza, você precisa aprender a lidar com ele antes que seja tarde. Bem vinda ao país das não maravilhas. 

quinta-feira, 24 de novembro de 2016

Mar de sentimentos

Ilustração: Paula Bonet
A princípio esse texto seria sobre fraqueza, sobre o quão frágil me sinto, sobre meu coração de vidro que vive despedaçando por aí. “Você só sabe chorar” “Garota, você é louca” “Você nem tem motivos para estar assim” “Para de drama" "Como você consegue ser tão burra?". Tantas frases cortantes que apenas engulo a seco. Pedaços e mais pedaços de palavras que não sou capaz de suportar, que meu corpo não é capaz de digerir. E assim viro água corrente, rio que passa sem fim, que leva consigo tudo o que vê pela frente.
Mas quero que saiba que minhas lágrimas não são sinais de fraqueza. Ei, eu te garanto que sou mais forte do que aparento. Ao menos sou forte o bastante pra chorar sem medo, para expulsar de mim tudo aquilo que dói, sem ter que esconder toda essa dor entre quatro paredes. Lágrimas são poesias salgadas, duras palavras que voltam ao mundo em forma de gotas de um imenso mar chamado sentimentos. Eu sinto, eu choro, eu até mesmo enlouqueço as vezes, e sabe? Isso só me torna mais humana. Meus nós na garganta estão aqui pra provar que essa corda é capaz de suportar muito mais do que parece.

domingo, 13 de novembro de 2016

Recuso-me a dizer adeus


Querida, eu gostaria de poder clarear seu mundo agora, mas meus olhos mal se abrem mais. Leve contigo o meu último sorriso, meu último abraço, meu último beijo. Eu odeio despedidas, e é exatamente por isso que te pouparei de ouvir um adeus saindo da minha boca.
Meu tempo está acabando. Vá! Não quero que você esteja aqui no meu último suspiro. Não quero que a última coisa que eu veja é a dor que estou te trazendo. As lágrimas que escorrem do seu rosto agora irão me atormentar pelo resto da eternidade. Estaria eu pagando por todos os meus pecados causando tamanha dor em quem eu tanto amo? Minha garganta se fecha. Tento gritar o quanto eu te amo, mas meus lábios não se movem. Quero te ver pela última vez, mas meus olhos encontram-se embaçados demais para isso. E de repente tudo fica escuro. Ainda posso ouvir sua voz, mas não consigo entender o que você está dizendo entre tantos soluços. E então veio-se um silêncio absoluto. Meu tempo acabou.


quarta-feira, 26 de outubro de 2016

Cartas a mim mesma: A mensagem na garrafa

Sinto-me colocando uma mensagem em uma garrafa e disparando-a no mar. Essa é minha garrafa. Esse é o meu pedido de socorro. 
Já faz um tempo que crio um monstro de estimação. Ele começou bem pequeninho, entre uma tristeza e outra. Mas ele foi crescendo… E hoje tornou-se maior que eu, e anda ocupando todos os segundos dos meus dias. Ele invadiu cada pedaço do que eu costumava ser, tanto que hoje nem me reconheço no espelho mais. É tão agoniante você olhar para seus próprios olhos implorando para encontrar uma saída de tudo aquilo, ou apenas se lembrar como você era antes de tudo isso. Mas você nunca sai do lugar. É como se tivessem me tomado o passado, presente e futuro. Como se eu estivesse vivendo em um universo paralelo, onde nada possui um sentido. Sinto-me por trás de um espelho, vendo tudo acontecer de forma invertida, sabendo que tudo aquilo está se passando ao meu redor, mas ao esticar os braços pra tentar entrar naquele mundo, dar de cara com uma enorme muralha de vidro. Estou presa nesse maldito espelho. 
E nisso sigo regando minhas dores e cultivando todas essas erva daninhas. Meu jardim, que um dia já foi belo e florido, foi tomado por completo, e hoje não passa de um matagal de problemas. 
Escrever sempre me ajudou, mesmo que pouco, sabe? E eis que agora, aqui estou, escrevendo essas cartas a ninguém, ou talvez apenas a mim mesma, na esperança de aliviar tamanho peso no meu peito.

quarta-feira, 21 de setembro de 2016

Cactos

Sozinha nesse deserto de sentimentos, eis que diariamente crio forças e revivo em mim. Não há sol que me mate, não há falta de chuva que me preocupe... Com o tempo, aprendi a me adaptar a esse mundo louco. 
Dia após dia, escondo-me atrás de minhas agulhas em uma eterna luta pela sobrevivência. Sou espinhos de cima a baixo, mas não se assuste, não tenho a intenção de te magoar. É só que depois de muito apanhar da vida, aprendi a me proteger. Às vezes até mesmo dos meus próprios sentimentos. 
Tempestade de areia atrás de tempestade de areia, me fortaleço. São tempos difíceis, mas permaneço de pé, firme e forte, pronta para enfrentar mais um dia ensolarado.
Sobrevivente dos contratempos da vida, não sou a mais bela das rosas ou qualquer outra flor de jardim... Sou cacto. Ser simples, símbolo de resistência, que aproveita cada lágrima como a mais bela experiência de vida. E nisso insisto, persisto, sobrevivo.

segunda-feira, 15 de agosto de 2016

Nuvens cinzas


Eu ando tentar lutar contra tudo isso, eu juro. Pode não parecer, mas eu estou tentando. Tem dias que abraço meus monstros, mas isso não significa que me rendi. Dias de fraqueza fazem parte, certo? Mesmo quando eles são a maioria.
Ontem eu consegui me levantar da cama, e acredite, foi um esforço enorme. Eu sorri de verdade, como há tempos não fazia. Eu senti uma dose de felicidade percorrendo meu corpo novamente. Uma onda em um mar... Passou tão rápido que não fui capaz de me despedir. Foram poucos segundos, mas foram mais que o suficiente para me fazer acreditar. Acreditar que essa nuvem cinza não é permanente, acreditar que a vida não é uma tempestade constante, acreditar que viver é algo além disso que ando fazendo.
Com o tempo me afastei de tanta gente que perdi a conta. Afundei em um poço tão profundo que agora estou tendo que escalar sozinha. Mas o sol está logo ali em cima, posso sentir.

domingo, 31 de julho de 2016

Meu caos

Eu sempre tento fugir, abafar essa voz na minha cabeça, mas nunca consigo. Todas as noites os mesmos pensamentos retornam para me assombrar.
Entre o amor e o ódio, reviro na cama enquanto revezo as músicas no meu celular. Nenhuma serve para
descrever o que sinto. Nenhuma basta para resumir o que eu gostaria de te dizer. 
E a cada segundo, abro sua foto e a fecho rapidamente. Uma espécie de tortura comigo mesma que faço sem saber bem o porquê. Digito algumas frases e logo apago. Chego sempre tão perto de abrir o jogo. E nisso entro em um eterno ciclo de digitar e apagar mil frases. Se pudesse juntar tudo o que eu já quase te mandei, eu poderia escrever um livro. "A idiota que se perdeu por um amor" poderia ser um bom nome. 
A cada volta do relógio, meu peito aperta mais. Por que de madrugada tudo se torna mais doloroso? 
Mais uma dose de antidepressivo. Outra. E outra. Engulo a seco. Arde-me a boca, o estômago e o coração. O seu veneno é a minha cura. 
Perco-me embaixo do travesseiro, embolada em mil cobertas. Perco-me embaixo de um amontoado de palavras não ditas e sentimentos incertos. 
Perco-me na escuridão que me consome. Perco-me de mim. Perco-me em você: Meu caos, minha insônia, minha dor.


sábado, 16 de julho de 2016

Manifesto da loucura

Archan Nair
Tão definida é a loucura: ações não aceitas socialmente e pensamentos fora do padrão. Indivíduo insano e desequilibrado, sem um mísero pingo de razão. Apontam os frios dedos, e dizem “pobre coitado, é um louco”, e não se olham no espelho. O que faz alguém ser menos louco do que o outro? O que faz de você o padrão da mente sã? E afinal, quem regeu esse padrão? 
São padrões em cima de padrões, que te dizem exatamente como você deve ser. Seu corpo, seu cabelo, seus sonhos e claro, sua mente não ficaria de fora. 
Sabe essa sua vontade constante de desistir de tudo? Esse vazio que às vezes te atormenta? As crises existenciais que entram embaixo do seu cobertor? São coisas de louco, algum médico diagnosticará. E te empurrarão remédios e mais remédios goela abaixo até você finalmente se encaixar nesse quebra cabeça sem sentido. É proibido surtar, se cansar ou questionar a desordenação do mundo. 
Abramos os olhos, todos estamos constantemente à beira da loucura. Eu, você, nós. Somos todos um bando de loucos e desequilibrados. Pessoas perdidas nesse mundo caótico, que tentam se encaixar em padrões psicológicos inexistentes. 
Que não tenhamos medo da loucura, medo de sermos nós mesmos ou medo de sermos taxados como pirados. Porque independente do que você faça ou fale, já adianto: um dia você será. Te chamarão de louco, maluco, fora de si e desorientado. Seja porque você levantou a sua voz ou simplesmente porque não quis ser aquilo que esperavam. Então não tenha medo: xingue, grite, chore e fale asneiras. Vista o que quiser, faça o que quiser e pense como quiser. 
Que esse manifesto seja o marco da aceitação. A união de todas nós, pessoas que não se escondem atrás de suas linhas tortas, que não fazem questão de caber em caixas, que enxergam nos impulsos novas formas de movimento. Seres completamente alucinados, diariamente na beira do absurdo.

quinta-feira, 16 de junho de 2016

Projeto 16 on 16 - Caro Senhor Disney

Caro Senhor Disney,

Quando eu era mais nova, vivia admirando princesas e sonhando com uma vida perfeita em um reino encantado, na qual eu viveria feliz para sempre com um príncipe encantado. Cresci e vi que talvez as coisas não funcionem exatamente assim... Príncipes encantados em cavalos brancos não existem, e os finais felizes? Muito menos.
Mas sabe, com o tempo fui percebendo que não preciso ser salva da minha torre por um corajoso cavaleiro. Eu, e apenas eu, sou capaz de me salvar e construir o meu próprio desfecho.
Não existem fadas madrinhas que em um passe de mágica irão resolver todos os meus problemas. Infelizmente demorei um pouco pra perceber isso, e me vi por um bom tempo atolada em um emaranhado de problemas, na espera de uma reviravolta que me tirasse dali. Precisei acordar e ver que não haveria ninguém pra me salvar, e eu teria que fazer isso usando o mais belo amor da face da terra: o próprio. E assim vivi feliz para sempre.


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sábado, 28 de maio de 2016

Reflexos

Desenho por: agnes-cecile
Te vi vestindo solidão naquela noite. Não queria confessar, mas até que combina contigo. 
Você foge como se tudo isso te desse medo. Teme a vida mais do que teme a morte, e se esconde na sua própria sombra por puro receio de ver a luz. Tanto tempo na escuridão te cegou? 
Você esperneia que não quer atenção sem ver o tumulto que causa. Ou talvez veja, assim como provavelmente gosta disso. 
No fundo você é só uma criança assustada. E essa criança chora todas as noites com medo dos monstros que habitam seu guarda roupa, além de temer profundamente todos os fantasmas do seu passado que insistem em assombra-lo sempre que possível. Essa criança também tem medo das pessoas - eu diria até que mais do que dos monstros e fantasmas - e está completamente assustada e cansada de tudo. Esgotada. No limite. Teria ela enlouquecido? 
Uma incógnita que já desisti de resolver: É exatamente isso que você é. Uma daquelas enormes equações que sempre odiei na época do colégio, aquelas em que eu ficava séculos tentando resolver e não chegava a lugar algum... Isso quando não perdia a cabeça no meio de tantos números indecifráveis. 
Ah garoto, eu sei que deveria desistir de você, mas por algum motivo não consigo. Sua loucura me atrai, seu dissabor me instiga e seu mistério me provoca. 
Desequilibrados, inconstantes, perturbados e desorientados. Acho que você não passa de um reflexo meu. Ou seria o contrário?

segunda-feira, 16 de maio de 2016

Projeto 16 on 16 - Uma música para recordar

Desenho por: agnes-cecile
Em meio a tanto barulho, sintonizei na sua melodia. Você foi para mim, aquela clássica música que começa calma, como quem não quer nada, e de repente se mostra incrivelmente animada e interessante. Daquelas que não gera uma paixão intensa logo de primeira, mas te faz querer esperar o refrão. Olha, vou ser sincera, sou de passar as músicas logo em seus segundos iniciais, não tenho paciência para ouvir a maioria até o final. Mas algo em você me disse que valia a pena esperar. 
Conheci cada uma das suas notas, decorei sua letra de cor e salteado, aprendi seu ritmo e vivenciei sua melodia. Confesso que as vezes ainda te cantarolo bem baixinho, quase que como um sussurro, na esperança de que você não me escute. Não me leve a mal, mas não quero que interprete errado, não quero voltar ao começo de tudo. Meu maior erro talvez tenha sido me viciar em você. Repeti tanto, que logo enjoei. 
Quero que saiba que por mais que apareçam novas músicas em minha vida, você sempre estará no meio da minha playlist de favoritas. Você foi aquela música que me marcou, me definiu e me mudou como pessoa. Você foi o meu hino nas horas que mais precisei de apoio, foi o consolo de todas as minhas tristezas e me acompanhou nas mais diversas danças. Você foi a mais bela canção que já vivi.  Mas o tempo acabou. A música chegou ao fim, e consequentemente, nós também.

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quarta-feira, 4 de maio de 2016

Bagunça

Desenho por: Carmell Louize
Você nunca me levou muito a sério quando eu dizia que precisava de um tempo do mundo, e eis que agora aqui estou, uma granada prestes a detonar em suas mãos.
Eu tentei te avisar que eu iria explodir qualquer hora. Você olhou para o meu sorriso aparentemente tão leve e não acreditou; “Bobagem sua, todos tem seus dias ruins”. E foi assim que dia após dia fui mergulhando cada vez mais fundo em meus dias ruins, de uma forma tão intensa em que nem havia mais como distingui-los dos bons.
Você se encantou com a minha bagunça e se assustou ao perceber sua grandiosidade. Ela não é bonita, eu tentei avisar. 
Odeio a maneira com a qual tudo se desfaz tão fácil em minhas mãos, e o quão rápido o brilho das coisas perde-se na escuridão. Canso-me tão rápido de tudo, que já nem acredito mais que algo de fato será permanente nessa vida.
Eu preciso de um tempo. Preciso dar alguns passos para trás e ver de longe toda essa confusão que aprontei dessa vez. Talvez eu volte e te convide para um café, mas querido, por favor, não espere por mim.


sábado, 16 de abril de 2016

Projeto 16 on 16 - Aquela carta que você nunca irá receber

O projeto 16 on 16 continua firme e forte, e o tema desse mês é bem amorzinho: cartas! <3


Essa carta já é a décima quinta que te escrevo hoje, e acredito que fará companhia para todas as outras que foram parar na cesta de lixo. Eu gostaria de ter um jeito de saber sobre a sua vida sem parecer tão... Intrusa. Afinal, foi isso que me tornei, não é? Uma mera estranha que um dia por acaso passou na sua frente.
Como anda a sua vida? Conseguiu a felicidade que tanto buscava como se fosse algo palpável que um dia você encontraria no final de algum arco íris qualquer? Encontrou o amor da sua vida, aquele dos livros que você suspirava só de imaginar? Encontrou seu lugar nesse mundo, já que você afirmava de pé junto que aqui não era o seu?  São tantas perguntas presas aqui dentro. Tantas palavras que nunca saíram da minha boca e que agora me sufocam todas as noites.
É madrugada. Nossa música começa a tocar na rádio. Eis que uma dor avassaladora surge no meu peito, e me consome por inteira. Seu número está logo ali perdido no meio da minha agenda. É tarde para te ligar? Hesito ao lembrar que prometi sumir da sua vida. Sempre foi tarde demais. E nisso explodo. Choro. Grito. Espanco o travesseiro em uma inútil esperança de entender esse sentimento sem sentido algum.
Por que diabos ainda sinto tanto? Por que você não some da minha vida de vez assim como todos os outros? O que fiz de tão errado para merecer ter essa cicatriz eterna no lugar em que um dia já ficou o meu coração? Por favor, devolva-me, ando precisando dele para tentar dar um jeito na minha vida. Anda tão difícil seguir em frente sem você.
Os dias não passam, sinto-me presa em um loop eterno. Sem ter dado meio passo para frente ou para trás, permaneço no mesmo lugar em que você me deixou. Eu até tento sair, eu juro. Às vezes surge alguém, e eu chego a pensar que finalmente me verei livre de você. Mas é muita pressão em cima de todos. Você sempre volta, não importa o que façam ou falem.
Não bastava ter ido embora, você me deixou completamente bagunçada e nunca voltou para guardar as coisas no lugar. Graças a você, não passo de um corpo vazio com poeira e enormes teias de aranha no peito. E nisso sempre desistem. Sempre.

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sábado, 9 de abril de 2016

Overdose


Eles tentam me dizer algo, mas tudo está passando em câmera lenta na minha frente. Acho que estou tendo uma overdose de realidade. Tento abrir minha boca e nada sai. "Você deveria ao menos esboçar um sorriso". Meus lábios não se movem nem meio centímetro. Eu não deveria estar aqui, mas também não deveria estar lá. Em lugar algum, talvez? 
Entrei em um estado de espera eterno. Não escuto vocês. Não consigo me mover. Não consigo me expressar. Uma bela estátua humana, presa em meu mundo interno, sem fazer a menor ideia do que se passa lá fora.
A solidão me assusta e me consola, e nisso fico sem ir ou vir. Parada no meio do caminho, esperando alguém me puxar pelas mãos e empurrar caminho afora. Quando foi que me tornei assim? 
Eu já me rendi há tanto tempo que nem sei mais lutar em um campo de batalha. Me entreguei no exato momento em que aceitei que havia sido completamente consumida por todos os meus monstros. Não restou nada que posso chamar de meu. Tornei-me uma estranha que não faço questão de conhecer. 
Tiraram-me o chão, mas não sei voar. E nisso caio, cada vez mais fundo, cada vez mais rápido, divertindo-me apostando quanto tempo irei durar em toda essa loucura.

domingo, 20 de março de 2016

Até logo




Uma vez você me disse que escrever sobre um sentimento é a melhor maneira de compreendê-lo. E eis que agora aqui estou eu, escrevendo sobre nós. Espero não me arrepender.
Eu só queria entender o motivo de tudo isso. Até hoje não sei qual de nós dois fugiu primeiro.
As vezes me pergunto se você ainda significa algo de fato ou se apenas tenho problemas em lidar com o passado. Acho que esse nó a garganta é a minha resposta: eu ainda sinto.
Mesmo sem perceber, sempre te cito entre uma conversa e outra com os meus amigos. É involuntário. Invento mil e uma desculpas, mas no fundo sei que o real motivo é porque você não sai da minha cabeça. Nunca saiu.
Faz exatamente um ano que te vi pela última vez. Nos despedimos com um abraço forte e um até logo. Não sei quanto tempo significa um até logo para você, mas bem, para mim costuma ser menos que 12 meses.
52 semanas, 365 dias, 8760 horas, 525600 minutos ou 31536000 segundos. É tempo suficiente para você perder uma parte significativa da vida de alguém. Assim como foi o tempo suficiente para me fazer esquecer dos detalhes do seu rosto. E pelo visto, para você, é tempo suficiente para me esquecer de vez.
Sabe qual é o meu maior medo depois de tudo isso? O nosso reencontro. Olharemos assustados um para o outro, e nos perguntaremos internamente o porquê nos afastamos.
- Você sumiu!
E eu como sempre, irei me responsabilizar por toda a culpa, como sempre faço.
- Pois é. Sumi... Tanta coisa acontecendo.
E nisso continuaremos nesse raso diálogo até algum de nós dois inventar uma desculpa para fugir de tamanho constrangimento. 
Quem diria que terminaríamos assim? Um fugindo do outro apenas para não encararmos de frente um fim que sempre evitamos.
- Vamos marcar algo, senti saudades!
- Vamos sim, claro!
- Até logo.
- Até!
E nós dois saberemos internamente que esse logo nunca existirá.

sábado, 19 de março de 2016

No meu fone


Sou assumidamente viciada em música. É raro me ver sem um fone, salvo quando esqueço-os em casa, e nesses dias fico cambaleando mundo afora como um zumbi, em busca de um fone emprestado.
Andar de ônibus sem escutar algo? Impossível. Arrumar a casa sem ter um som pra guiar meu ritmo? Nunca. Andar na rua sem cantarolar alto o que estou ouvindo? Muito raro.
Além disso, sempre escrevo ouvindo música, sempre mesmo. E foi pensando nisso que tive a ideia de compartilhar aqui as músicas que mais ando escutando no mês, visto que muitas vezes estão muito relacionadas com os temas ou estilo dos meus textos.



segunda-feira, 22 de fevereiro de 2016

Notas sobre ela


Ela é insegura como nunca vi antes. Se vê de uma forma que ninguém entende e vive em um mundo que ninguém vê. 
As vezes eu só gostaria que ela fosse capaz de ver 1% de tudo aquilo que vejo nela. Um sorriso ingênuo como nunca vi igual, e por trás de toda a sua ingenuidade, esconde-se uma mulher segura de si e das suas crenças, que luta com garras e dentes a favor daquilo em que acredita. 
Já tentaram mudar ela. Uma, duas, três, dez vezes... Todas em vão. 
Ela é um enigma que enlouquece os maiores amantes de mistério. Em seus cabelos negros e encaracolados, encondem-se receios. Nas curvas do seu corpo, enconde-se seu amor próprio. E em seus olhos, esconde-se uma dor antiga, que sempre aparece entre um sorriso e outro.
Ela já perdeu a conta de quantas vezes foi chamada de louca. E quer saber de um segredo? Ela ama ouvir isso. Com o tempo, ela trocou o significado de loucura do seu dicionário para "aquela que vive como se cada dia fosse o último", e transformou isso em sua religião. Com o tempo ela aprendeu que não importa o que faça ou fale, sempre será julgada por alguém. E se cansou disso. 
E foi assim que a perdi. Tentei encaixa-la em padrões inexistentes, ela não coube ali e fugiu. Esta aí outra nota sobre ela: não adianta tentar segurá-la, ela sempre irá escapar. As asas dela crescem mais rápido do que você é capaz de ver. São sorrateiras, e quando você percebe, já é tarde demais, ela ja alçou voo. Ela tem isso quando se cansa das coisas, e isso ocorre com mais frequência do que você imagina.

terça-feira, 16 de fevereiro de 2016

Amores de carnaval

Chegou o dia 16 e eis que tem texto novo do projeto "16 on 16". O tema de fevereiro? Carnaval! Confesso que foi um tema difícil para mim, mas bem, vamos ao que interessa:


Quem foi que disse que não existem histórias de amor no carnaval? Eu mesma presenciei uma esse ano: a história do amor próprio.
Um sol escaldante, constantes chuvas de glitter, amores em todas as esquinas, alegria por todo canto... Uma diversidade enorme de sentimentos desfilavam pelas avenidas.
Te vi do outro lado da rua, nossos olhares se encontraram, e você logo virou para o lado oposto e optou por fingir que não me viu. Naquele milésimo de segundo, que mais durou uma eternidade, quis te dizer tanta coisa. Mas você logo sumiu na multidão, e eu continuei ali, estabilizada.
- Moça, que cara triste! Cadê o sorriso no rosto? É carnaval! - Fui logo tirada da transe por alguma moça com uma fantasia engraçada que já não em recordo mais qual era. Quando me virei para responde-la, ela já havia ido.
"Eu não posso deixar a felicidade bater e simplesmente ir embora. Preciso abrir a porta, caso contrário ela nunca entrará." - Sussurrei para mim mesma.
O trio andou. Minha música preferida começou a tocar, e eu pulei como se não houvesse amanhã. No meio de toda aquela confusão, eis que me vi pela primeira vez no ano, me jogando de corpo e alma em algo, sem me preocupar com nada além de colocar um sorriso no rosto.
Eu finalmente havia me libertado de você.


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sexta-feira, 29 de janeiro de 2016

Ei garota



Ei garota, você não precisa se esconder tanto, qualquer dia você acabará se perdendo de vez dentro de si mesma.
Você abraça firmemente todas as suas causas, ao mesmo tempo que parece pouco se importar. Você ama a todos, ao mesmo tempo que sempre se esconde das pessoas no seu quarto. Você diz amar o mundo, mas já foi pega pensando em fugir dele. Você está sempre sorrindo, quando no fundo está se afogando em lágrimas. Você sempre diz que está tudo bem, quando consigo ver o mundo desabando através do seu olhar.
Sei que tudo anda parecendo muito bagunçado agora, mas calma, eu te juro que a vida é mais do que esses pensamentos em preto e branco que tanto te perseguem.
Eu sei mais do que qualquer um o quão difícil é levantar da cama todas as manhãs para encarar todo aquele mundo sem graça lá de fora, sei o quanto seu sofá soa mais confortável do que qualquer conversa que você teria com pessoas aleatórias por aí, assim como sei o quão difícil é dormir todas as noites com tamanhos fantasmas que insistem em te assombrar. Eu sei mais do que ninguém quantas lágrimas você derruba escondida de todos, com medo de te acharem apenas mais uma mimada que tem tudo e ainda assim é tão insatisfeita com a vida. 
Ei, eu sei de tudo isso. E sabe por quê? Porque eu sou você. E saiba que não há ninguém nesse mundo que te ama mais do que eu. 
Não te desejarei força, pois isso você tem de sobra. Apenas peço para que não desista de lutar contra tudo isso, por mais confortante que a dor soe as vezes.

Com amor,
Você.

quinta-feira, 21 de janeiro de 2016

Carta a um amor perdido


Enquanto você está por aí perdido no mundo, estou completamente perdida dentro do meu próprio quarto. As coisas não eram para ser assim. O nosso maior erro foi ter ignorado as placas pela estrada. E irônico, pois agora elas sempre me perseguem em meus sonhos.  
Eu continuo aqui ouvindo aquela música de sempre que você nunca entendeu, vestindo aquela blusa que você tanto dizia odiar, e comendo aquela pizza que você achava horrível. A intenção era eu me sentir livre, afinal, agora posso fazer tudo isso sem alguém para me criticar. Mas não, eu trocaria tudo isso por mais um beijo seu, sem nem pensar duas vezes.  Você me mudou da pior maneira possível, e depois simplesmente foi embora pela porta da frente. Acha isso justo?
E agora você está por aí, talvez mudando alguma outra pessoa para largá-la na primeira oportunidade. Talvez em algum carro qualquer sem saber ao certo para onde está indo, essa opção é realmente muito a sua cara. Talvez esteja se embebedando e fingindo que está tudo bem. Suprindo sua carência com lábios aleatórios que nunca mais verá em sua vida. E você afirma batendo o pé que essa é a vida que você sempre quis. Mas hey garoto, eu te conheço. Mesmo você sendo o maior enigma que já tentei desvendar um dia, eu ainda sei que no fundo seu vazio te enlouquece. Assim como sei que você tenta preenche-lo com tudo que vê pela frente. E ele só aumenta cada dia mais.
É sexta a noite. Ainda tenho esperança de você me ligar completamente transtornado dizendo que sente minha falta. Nem precisa ser muita não, ando mendigando tanto o amor que qualquer esmola serve. E nisso vou me afundando em algo que eu mesmo estou cavando. Tão desesperada pra te ter de volta que perdi qualquer vestígio de amor próprio que já tive algum dia.
Onde quer que você esteja, me responda: você ainda pensa em mim? Você ainda se lembra de mim quando passa por aquela lanchonete suja onde foi nosso primeiro encontro? Ainda se lembra de mim quando vê aquele filme que vimos juntos quando você ainda dizia que éramos apenas amigos? Porque eu lembro. Vejo você em tudo, e isso me mata. Por que você me fez viver tanto? Te odeio por um dia ter me tirado do meu mundinho confortável e sem vida e colorido ele. Uma vez que você conhece a felicidade, é terrível cair na real e ver o quão cruel o mundo pode ser. E foi exatamente o que você fez comigo: entregou um doce em minhas mãos, me fez ama-lo e tomou-o de mim.
Eu odeio o fato de você ser tão você. Odeio o quanto você é amável. E odeio mais ainda o fato de não conseguir te odiar depois de tudo.
Algumas coisas nunca irão mudar, e infelizmente, nós somos uma delas.


sábado, 16 de janeiro de 2016

Projeto 16 on 16 - Quem sou eu?

Esse ano já começou de uma forma maravilhosa... Fui convidada para participar de um projeto, o "16 on 16". Resumindo, somos 16 blogueiras que postam no dia 16 de cada mês algum texto, imagem, poema (enfim, qualquer coisa), sobre algum tema escolhido por todas nós. O tema desse mês é "Quem sou eu", uma forma interessante de começar, já que acabamos conhecendo melhor umas as outras.

Um dia, em algum cadastro de um site aleatório, era necessário que eu escrevesse “quem sou eu”. O cpf eu sabia de cor e salteado, número da identidade e cartão de crédito? Tudo mais que decorado. E o bendito “quem sou eu” simplesmente me travou. Digitava... Apagava.. Tentava de novo... Mas nada saia.
No ranking das perguntas mais difíceis do universo, essa sem dúvidas merece o troféu. Fica na frente da origem do mundo, do sentido da nossa existência e de tantas outras...
É tão fácil falar sobre as outras pessoas, até mesmo aquelas que mal conhecemos. E eis que eu não sei nada sobre mim. Sou estranha para mim mesma, isso não está certo. “Nunca converse com estranhos” – Minha mãe sempre dizia. Não conversar sozinha, ok, anotado.
Alguns me definem como louca, outros como estranha, e até existem uns meio surtados que me definem como normal. Eis que me considero portanto uma mistura de tudo.
Quem sou eu? Ora, sou a louca que liga 20 vezes quando quer falar com alguém por mais bobo que seja o motivo, sou a maníaca que vive dando uma de detetive nas redes sociais, sou a sem noção que dança mesmo sem música quando dá vontade, sou a meiga que quase mata os animais ao abraçá-los, sou a viciada que está sempre bebendo coca-zero, sou a criança que acredita em unicórnios, sou a idosa que esquece de tudo, sou a estranha que adora comer miojo cru, a apaixonada que ainda acredita no amor, a aleatória que está sempre falando nada com nada, a dramática que chora a toa, a maluca que canta nos momentos mais inapropriados, e o principal: a indecisa que não consegue chegar em um consenso para se definir... Enfim, sou literalmente tudo. Literalmente, está aí uma palavra que me define bem. Sou metaforicamente literal. Ou talvez literalmente metafórica. Vivo dentro de um filme. O meu filme. Um eterno roteiro que estou sempre escrevendo e reescrevendo em minha cabeça. Alguns dias drama, em outros terror, suspense de vez em quando, romances menos do que eu gostaria e mais comédia do que o normal.
No fim das contas, sou um pouco de tudo e um pouco de nada. Sou o que sou, e nada mais. Já até tentei ser algo além, mas nada que foi pra frente.
Bem, tudo isso começou por causa de um cadastro, certo? Esse texto sem dúvidas não coube no espaço destinado a resposta, caso esteja se perguntando, então fiz o óbvio: pesquisei uma frase aleatória que não entendi direito de algum escritor famoso cujo nome nem sei pronunciar. Acho que no fundo, é isso que todos acabam fazendo quando se deparam com tamanho dilema da humanidade.

Não deixe de conferir a postagem das outras blogueiras, juro que vale a pena! <3



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